terça-feira, 17 de abril de 2012

Não deixem de ouvir rádio!

Cada vez mais, estou andando menos de carro.
Diante de um trânsito que a cada dia fica mais caótico, pois o natalense passou a acreditar que não se pode viver sem carro, além de meus problemas crônicos nos joelhos, tive que buscar uma alternativa de transporte, que encontrei na bicicleta. Nosso transporte público é vergonhoso, quando não inexistente (trens, onde?), mas não podemos usar isso como álibi, para virar a cara para o problema, adquirindo um carro, pois nem todos podem comprar um carro, tampouco a cidade e o meio ambiente aguentariam a demanda de ricos insanos por um veículo motorizado.

Mas bem, não é sobre isso que quero falar. Como disse, tenho andado muito pouco de carro, mas sempre que ando, venho escutando a rádio. As gerações mais novas, mais ligadas à tv e à internet (agora existem os iboys, os indivíduos que se desconectam do mundo quando estão com seus celulares nas mãos) acreditam que quase ninguém ouve rádio, muitos inclusive, desconhecem a importância histórica do rádio.

Como todo meio de comunicação, é importante que tenhamos sobre ele um olhar crítico, para que possamos compreender algumas de suas consequências. Com a grande influência da tv em nossa sociedade, aliada à popularização da internet, debates sobre o conteúdo televisivo tornaram-se mais corriqueiros na rede. No entanto, a rádio ainda é um pouco esquecida.

Precisamos lembrar que a rádio ainda exerce uma influência forte em nossa sociedade, principalmente nas classes menos favorecidas. Uma pesquisa feita por mim, mas que qualquer um pode constatar, me revelou que empregadas domésticas, caminhoneiros, operários e taxistas (este último eu suponho) ouvem muito rádio durante o trabalho. E o conteúdo que essas pessoas recebem é parecido com o conteúdo da grande e velha mídia televisiva. Nossos meios de comunicação foram loteados e entregues para uma série de figuras, que pouco têm a contribuir com a construção de uma democracia cada vez mais próxima do real conceito de democracia.

Não é a toa que é crescente a quantidade de rádios evangélicas. Enquanto o trabalhador exerce sua função, é cooptado por uma instituição através das ondas de rádio.

Hoje, ouvindo a rádio, coloquei na 94fm, a Rádio Cidade do RN. Logo que coloquei, Alexandre Garcia começou a falar. Falou de um ranking de presidentes de empresas sulamericanas feito a partir do ano de 95. Boa parte eram brasileiros (curiosamente, só presidentes de empresas privatizadas, como a CSN, Vale...), e logo em seguida, Alexandre Garcia disse que eram poucos os argentinos no ranking, segundo ele "em decorrência da bagunça causada pelo casal Kirchner, e em seguida comentou sobre a estatização da petroleira YPF, dizendo que "Como um Evo Morales, Cristina Kirchner estatizou a petroleira, trocando inclusive os seguranças".

Para essa mídia raivosa, se não for privado, não presta. Estado mínimo já! America do Sul subserviente ao Tio Sam já! É imprescindível refletirmos sobre as mensagens midiáticas que recebemos, a quem essas mensagens interessam, e se esse interesse também é comungado pelo povo.

Fica cada vez mais explicita a necessidade da Ley de Medios.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Em Natal, não dá pra ser cidadão

De modo geral, o cidadão, genuinamente falando, se aborrece, ou se inquieta quando fica diante de irregularidades em seu meio. Quando esse cidadão se depara com essas situações, ele mesmo tenta fazer algo, ou busca os órgãos responsáveis.

Em Natal, buscar órgãos competentes é bastante complicado, primeiramente, porque são raros, ainda mais durante a aberração eleitoral chamada "Administração Micarla de Sousa", em segundo lugar, porque as dificuldades de buscar esses órgãos, muitas vezes são imensas. Em Natal, temos o exemplo dos "buracos de Natal", que diante de uma postura incompetente e inerte dos órgãos responsáveis, muitos moradores tiveram, eles mesmos, que tapar os buracos de suas ruas.

Há várias semanas, na Rua Professor Manoel Vilar, a rua que fica ao lado da Fiat Pontanegra, que desemboca na Avenida Roberto Freire, venho presenciando, nos horários de pico que, simplesmente, os motoristas não respeitam a mão dupla da rua. Seria digno, heróico e até emocionante, se tamanha pressa, que leva os motoristas a cometerem uma infração tão grave e perigosa, fosse para salvar o mundo, mas não é. Trata-se de um espírito egoísta e corrupto.

Já presenciei cenas absurdas, por exemplo, quando um ônibus no sentido normal quase bateu de frente com um carro de passeio, que vinha na contra mão. Hoje, voltou a acontecer, tive que pegar tal rua, e mais uma vez, tive raiva. Um taxi que pegou a contra mão, parou ao meu lado, aproveitei o vidro aberto do taxista apressado, e perguntei se ele não sabia que era contra mão. Ele disse, ironicamente, que não. Falei, também ironicamente, ser bela a pressa dele para salvar o mundo.

Desde que comecei a presenciar essas cenas, tentei fazer a denúncia na página da prefeitura (http://www.natal.rn.gov.br/ouvidoria/), em vão, pois o site dizia que meu e-mail é inválido, talvez só se for para essa página, ou para esse fim. Durante esse tempo, tentava ligar para o número que consta nos carros da SEMOB - 156 - e foi sempre em vão. Hoje resolvi ligar para a polícia, e quando informei ao policial que tentei contato pelo 156, ele riu, disse que esse telefone não funciona, e me passou o número 3232-9144. Feliz, resolvi ligar achando que ajudaria a resolver o problema, mas às 18:20, ninguém atendeu. Provavelmente porque a partir das 18 horas o trânsito de Natal não exija maiores cuidados.

Em Natal, não dá pra ser cidadão.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Não valemos nada.

Sim, não valemos nada. Não importa o quanto trabalhamos, o quanto estudamos, e o quanto lutamos por uma sociedade mais democrática, se carregamos conosco um estigma que nos marginaliza, seremos sempre uns vagabundos, uns merdas, a vergonha da família, e alvo de ódio, calúnias e dos olhares da censura. Todas nossas virtudes, todo nosso suor é deixado em segundo plano, todas nossas qualidades se perdem em meio ao discurso opressor.

Não valemos nada. Podemos, na medida do possível, ser o melhor filho, um parente amável, ou um excelente colega de trabalho, se não seguimos o fluxo, se não formos sujeitos inofensivos, seremos execrados, alvo de escárnio, e nossas idéias, coitadas, se tornam inaudíveis e invisíveis. Nossos defeitos se tornam monstruosamente grandes diante de nossas qualidades, nos atribuem rótulos, seja de "bicha", "comunista" ou "drogado", e não importa o que façamos, seremos apenas isso.

Não quero aqui dizer o que devemos fazer, mas creio que só temos duas opções: agüentar a opressão em silêncio, sofrendo, ou dar a cara a tapa e encarar os opressores. Minhas bochechas já estão coradas, mas acredito ser a melhor opção quando se busca a liberdade de corpo e alma.

Pelo direito de fazermos o que quisermos com nossos corpos.