segunda-feira, 28 de março de 2011

indústria da bondade

No texto anterior falei sobre a perfeição fachada, que consiste em ostentar uma personalidade, um estilo de vida para atender a padrões aceitos por determinados círculos sociais, e algo que se encaixa perfeitamente à essa necessidade, é a "indústria da bondade".

A indústria da bondade é aquela coisa patética, que surge para suprir a necessidade das pessoas de praticarem uma ação teoricamente boa, quase como um Engov da consciência das sociedades cristãs ocidentais, que causa a sensação de "dever cumprido".

Nessa indústria, enquadra-se os 15 reais doados ao Criança Lambança, para o sujeito acreditar que cumpriu seu papel social, ou os 10 centavos dados de esmola no sinal, ou então apagar, miseravelmente, as luzes de casa por uma mísera hora, na tal Hora do Planeta, pro indivíduo que anda num carro a diesel, joga lixo na rua e afins, achar que cumpriu com seu papel ambiental, e está protegendo o meio ambiente, altamente preocupado com o aquecimento global.

Participar da indústria da bondade é como rezar: o sujeito não faz nada, mas acha que está ajudando.

Fachadas e mais fachadas. Hipocrisia e mais hipocrisia. Comodismo e mais comodismo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

"perfeição fachada"

Discutindo com meu amigo, professor, mestre e oráculo chamado João, tratávamos sobre a necessidade que as pessoas têm de ostentar uma personalidade, um estilo de vida de fachada, apenas para atenderem a padrões mais aceitos por seus círculos sociais.

As pessoas fingem viver uma vida perfeita (que tolice, impossível), fingem ser liberais (mas votam em candidatos ultra conservadores), assim como fingem não possuir preconceitos (outra tolice impossível), pois está na moda. Vejo pessoas usando drogas para serem aceitas em certos grupos, e pagando a consequencia da imaturidade depois. Vejo pessoas tatuando tosqueiras pelo corpo, apenas para possuírem uma tatuagem, e pagarem de "maneiras".

Vejo também, pessoas altamente reacionárias, beijando pessoas do mesmo sexo, pra posar de bissexuais, apenas pra parecerem descoladas. Vejo também, essas mesmas pessoas, estigmatizando outros sujeitos que não concordam (mas respeitam) com essa postura, me fazendo pensar que um dia essa gente obrigará os demais a gostarem de comportamentos que, intimamente, não gostam. Não bastará respeitar, todos deverão reproduzir comportamentos descolados, para parecem descolados e construírem uma sociedade descolada... e vazia.

E assim segue a vida, sendo vivida para os outros, de fachada.

p.s.: Via Ryot Iras

teus lábios são labirintos

Refrão de Bolero
Humberto Gessinger

Eu que falei nem pensar
Agora me arrependo roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão

Mas eu falei sem pensar
Coração na mão
Como um refrão de um bolero
Eu fui sincero como não se pode ser

E um erro assim, tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira
Ele consegue nos achar num bar

Com um vinho barato
Um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada
No espelho do banheiro
...

p.s.: Eu estava lá:
http://www.youtube.com/watch?v=fJTgoVURLo0&feature=related

quinta-feira, 24 de março de 2011

O fim parece próximo

Próximo mês, vai fazer um ano que trabalho na instituição de ensino que tão bem me recebeu. Prôximo mês, também, vence meu contrato de um ano de estágio.
Se vão renová-lo, não sei, espero que sim, mas o que tiver de ser, será. Vejo a renovação apenas como o prolongamento da minha felicidade, e o adiamento da tristeza de ter que deixar meus amados alunos.
Confesso que, se eu deixá-los, já não verei sentido nas minhas manhãs. Não consigo mais conceber meus dias sem aquelas pessoas, que deram sentido não só às minhas manhãs, como também à minha formação humana e profissional, à minha vida, também.
Como vou viver sem todos aqueles abraços, apertos de mão, carinhos, afagos e cumprimentos em geral? Tudo isso justifica acordar todos os dias às 5 da manhã, justifica a correria todas as manhãs, a quantidade de pepinos pra resolver... Justifica tudo, e ainda me faz sair ao meio dia com um sorriso bobo no rosto.
Só de pensar numa provável despedida, meus olhos ficam pesados, e inevitavelmente, o que "é clara e salgada, cabe em um olho, e pesa uma tonelada, tem sabor de mar, pode ser discreta, inquilina da dor, morada predileta" cai, copiosamente.

sábado, 19 de março de 2011

intolerância, preconceito e afins....

Hoje, eu, dois primos e o ex-cunhado de um deles fomos à praia para surfar.
Saí da água após tomar um caldo violento (novidade nenhuma) e me deparei com meu primo a conversar com um estranho. Me aproximei e vi que se tratar de um argentino mochileiro, barbudo, com aspecto de cansado e um pouco abaixo do peso.
Meu outro primo e seu ex-cunhado saíram da água e colocaram uns olhos pouco amigáveis pro cara, e perguntaram asperamente quem ele era, e pra onde ia. Já comecei a não gostar. Eles voltaram pra água, e eu e meu outro primo começamos a conversar com ele.
Entre outras coisas descobri que ele mora na Espanha, mas é de Buenos Aires, vive de viajar pelo mundo (conhece mais o Brasil do que eu) e que provavelmente eu gostarei mais de conhecer a Patagônia do que a capital argentina.
Fui para a água e perguntei se podiam dar carona pro cara, e ouvi de cara um não. Continuei a não gostar, mas o carro não era o meu, tive que engolir.
Decidimos ir embora, fui falar com o cara, e em momento algum ele pediu nada, eu que perguntei se ele precisava de algo, carona (eu me propus a voltar para busca-lo), comida ou dinheiro. Ele disse que estava tudo bem, então me juntei as demais e fomos para o carro. No caminho, começou uma forte discussão, pela forma como os dois olharam para o cara, e o trataram.
A discussão se prolongou, começamos a nos tratar de forma pouco educada e por pouco não partimos para a agressão. O ex-cunhado do meu primo, que disse ter mudado muito após começar a ler a bíblia, era o mais revoltado com o fato de eu ter ficado com raiva pela carona negada.
Decidi voltar da via costeira a pé, uma bela caminhada para esfriar a cabeça, mas antes tive que escutar do meu primo que estava ao meu lado na discussão dizer: "que merda, tinha que ser um argentino filho da puta pra causar essa discórdia entre nós".
Não, não foi culpa do argentino, e sim da intolerância, do preconceito e afins...

Me entristeço com essa tendência cada vez mais forte, das pessoas verem umas nas outras, uma ameaça em potencial, ou inimigos em potencial. Essa tendência fará com que cada vez socializemos menos, nos relacionemos menos. O nosso mundo é vil, é verdade, mas não podemos ser tão radicais, caso contrário, voltaremos às cavernas.

domingo, 13 de março de 2011

Carnaval

O carnaval tem uma aura de descontração, a diversão em si é boa, mas certas coisas são impossíveis de se passar batido...

Pelo menos para onde fui, pro interior do Estado, o que eu vi foram pessoas fúteis, de todos os lugares do país, padronizadas dos pés à cabeça (sim, os penteados eram iguais, as camisas eram todas da mesma marca e estilo, e por aí vai), ostentando um lifestyle medíocre, pautado no desfile de praticamente, carros alegóricos. Carros alegóricos esses, que pareciam competir, não só na potência do som, como também na péssima qualidade musical. A disputa parecia ser: quem colocar a pior música, ganha.

E a essa lógica consumista não ficava por aí, os sujeitos donos desses artefatos responsáveis pela poluição sonora, eram praticamente elevados a um status de "reis do baile", e eles de fato, se sentiam assim, talvez por fornecerem "boa música" à toda aquela platéia e exibirem suas parafernálias sonoras. Pra mim esses sujeitos só não superavam em termos de mediocridade, as garotas decorativas dos carros alegóricos, que por instantes me fizeram lembrar das dançarinas de programas televisivos, no entanto, essas pelo menos, ganham dinheiro para se prestar ao papel de objeto decorativo. As figuras, em cima dos carros alegóricos, dançavam felizes, músicas do tipo "eu era feio, agora tenho carro" - deu pra sentir o drama fonográfico? (ou seria pornográfico?) - dando total legitimidade a ideologia patética dessas porcarias que muitos insistem em chamar de "música".

E no fim do carnaval, o que se viu foi o retrato do que se passou: sujeira e fedor.
Como bem diria o Fred 04 do Mundo Livre S/A, na música "Carnaval Inesquecível na Cidade Alta":

500 mil pessoas sem fazer nada, pulando no meio da rua
Gozando do próprio sofrimento
Centenas de milhares de idiotas
Que trabalham o ano inteiro
Pra gastar todo dinheiro nesses quatro dias...
Nesses quatro dias de folia programada

...

Que animação
Levaram tudo deixando apenas a nostalgia do amor próprio
A picardia
Suprema lição, ruidosa folia, retumbante solidão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Fernando Pessoa 13-12-1933

Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
por amar, mais que ser,
Amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
que, também, nada sabem.