domingo, 4 de dezembro de 2011

Vai em paz, dr. Sócrates!

Em 1983, como uma espécie de profecia, Sócrates Brasileiro, ou para muitos, apenas Dr. Sócrates, ou "Magrão", disse que queria morrer num domingo, com o Corinthians se sagrando campeão. Assim, parecendo traçar seu destino glorioso, Sócrates faleceu logo no início desse domingo (4), véspera da decisão do Campeonato Brasileiro, que deu Corinthians, como ele queria.

Sócrates foi mais que um grande jogador de futebol. Não conseguiu ser campeão do mundo pela magnífica seleção de 82, ou campeão brasileiro pelo Corinthians, mas mesmo assim, é um gigante da história do nosso futebol. Sócrates surgiu no Botafogo de Ribeirão Preto (SP), e muitos diziam que ele não tinha futuro no esporte, pois não tinha tempo para treinar por cursar faculdade de Medicina. Entretanto, ele contrariou a todos, pois nasceu com o dom, e além de um grande jogador, foi um intelectual, um militante político de esquerda, um pensador.

Além das belas jogadas, Sócrates se destacou por liderar, nos tempos da ditadura militar, um movimento revolucionário no Corinthians, que veio a se chamar "A Democracia Corinthiana". O movimento consistia na tomada de poder das decisões do clube por parte dos jogadores, de forma democrática. Além da Democracia Corinthiana, Sócrates se engajou no movimento Diretas Já, que reivindicava eleições presidenciais diretas.

O futebol no Brasil e no mundo continua sendo o esporte com maior apelo. Os jogadores cada vez mais são elevados a status de mega estrelas, só que ao contrário de Sócrates (que também foi uma exceção), esses jogadores não usam seu poder midiático para causas realmente importantes (como a luta pela democracia, por exemplo), mas sim, para lançar penteados, participar de campanhas publicitárias, ou lançar polêmicas fúteis. Fica a reflexão de quais referenciais de atleta e de humano a juventude de hoje tem, quais valores e atitudes são exaltados, e consequentemente, quais valores e atitudes são reproduzidos pelas gerações mais novas.

Futebol e política estão - apesar de não parecer - extremamente ligados, infelizmente, essa relação só é mais perceptível nos bastidores, entre a "cartolagem" (Copa 2014 e a relação FIFA, CBF e Governo Federal é um exemplo crasso), cabendo aos jogadores apenas o papel de "peão", completamente submisso ao poder (exemplo disso é o ex-jogador Ronaldo, que mesmo rico e influente, aceitou fazer parte do comitê organizador da Copa, com uma missão clara de "blindar" o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, alvo de denúncias de corrupção).

Sócrates ia contra tudo isso, pois nunca baixou a cabeça para poderosos, tendo inclusive se manifestado contra um regime ditatorial. Sócrates podia não ser um exemplo de atleta, pois bebia bastante, mas era um exemplo de cidadão, exemplo esse que tanto nos falta hoje em dia. É, o "Doutor da bola" vai fazer falta...

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